Henrique Oliveira após sua prisão, em 1996. |
Na trilha do lançamento de Isolados, novo filme de Tomas Portella (Qualquer Gato Vira-Lata), inspirado na história real de Ibrahim e Henrique de Oliveira, os “irmãos necrófilos”, acho pertinente relembrar a trajetória dessas personagens assustadoras da nossa história recente. Digo isso porque, embora a coisa toda tenha acontecido entre os anos de 1995 e 1996, eu, que tenho excelente memória, não me lembrava do caso. Daí a pergunta: com quantos mais estaria acontecendo a mesma coisa?
Em janeiro de 1995, o vigia João Carlos Maria da Rocha namorava com Elizabeth Ferreira Lima na beira de um riacho, em Nova Friburgo. Foi quando foram surpreendidos pelos irmãos Oliveira, que mataram João Carlos e estupraram Elizabeth. Elizabeth, na verdade, fingiu-se de morta e só por isso conseguiu escapar com vida. Os irmão, que se tornaram conhecidos na imprensa de todo o país como “Irmãos Necrófilos”, costumavam matar as vítimas e depois abusar sexualmente dos cadáveres, algumas vezes esquartejando-as ou desfigurando seus órgãos genitais em seguida. Elizabeth teve muita sorte. Ela se tornou a principal testemunha no caso contra os irmãos.
Estima-se que cerca de 22 pessoas tenham sido mortas em condições semelhantes, no espaço de tempo entre fevereiro de 1991 e novembro de 1995. No entanto, a polícia conseguiu relacionar os irmãos a apenas oito desses crimes, entre as vítimas 6 mulheres, o vigia João Carlos e uma criança.
Estima-se que cerca de 22 pessoas tenham sido mortas em condições semelhantes, no espaço de tempo entre fevereiro de 1991 e novembro de 1995. No entanto, a polícia conseguiu relacionar os irmãos a apenas oito desses crimes, entre as vítimas 6 mulheres, o vigia João Carlos e uma criança.
Isolados não é o primeiro filme que busca inspiração na história macabra de Ibrahim e Henrique. Já em 1996, o diretor Petter Baiestorf, bem conhecido por seus filmes gore, baseou-se nos relatos assustadores sobre os crimes dos irmãos necrófilos para
filmar “Eles Comem Sua Carne”. No entanto, Isolados parece trabalhar a trama
sob uma perspectiva mais realista e, talvez por isso mesmo, mais visceral e perturbadora.
Além disso, ousa lançar no cinema nacional, conhecido por suas comédias,
romances regionais e pornochanchadas, uma obra no gênero suspense e horror
psicológico, protagonizada (e antagonizada) completamente por atores
brasileiros.
Na época, uma grande operação policial foi armada para a perseguição e captura dos irmãos, que, graças à cobertura da imprensa, tinham se tornado as figuras mais procuradas do país. Cerca de 250 policiais, entre agentes locais e membros do BOPE, foram mobilizados pela cidade e pelas florestas da região. Além de encontrar e capturar os irmãos necrófilos, a polícia tinha ainda outra difícil missão – tentar chegar primeiro que o resto da população.
A prefeitura de Nova Friburgo havia anunciado, segundo
informações difusas, o pagamento de 5000 R$ para quem encontrasse os irmãos.
Isso motivou a ação de um incontável número de caçadores de recompensas. Além
disso, também havia a noção de uma “justiça local”, que, segundo alguns, não
competia à polícia. “Aqui é com a gente. A polícia não vai se meter. O que eles
fizeram é selvageria e selvageria se paga com selvageria.”, disse o agricultor
João das Neves, de 49 anos, a um repórter. Pelo que parece, os moradores já
haviam até mesmo escolhido a árvore em que pendurariam os cadáveres dos irmãos.
Em dezembro de 1995, um dos irmãos foi visto por pessoas que
estavam no sítio do comerciante Hélio da Fonseca, nos arredores da Montanha dos
Pinéis, em Riograndina, distrito de Nova Friburgo. Alertados, os homens do BOPE
subiram a montanha, enquanto moradores da região, armados de carabinas e
facões, fechavam as trilhas de descida da montanha para evitar a fuga. Na
operação, Ibrahim acabou morto pela polícia, mas Henrique, ainda não se sabe
como, conseguiu fugir.
Numa das declarações dadas à imprensa, o delegado
responsável pelo caso, Henrique Pessoa, disse que seria difícil que o fugitivo
escapasse da fúria popular por muito tempo. “Não tenho dúvidas de que haverá um
justiçamento”, ele afirmou à reportagem da Folha de São Paulo. Não foi preciso
nada disso, no entanto. Em 18 de junho de 1996, o próprio Henrique entregou-se
ao fórum de Friburgo.
Ele ainda tentou colocar a culpa pelos assassinatos no
irmão, que havia sido morto, assumindo apenas o papel de expectador nos crimes,
mas foi julgado e, em 1 de setembro de 2000, acabou condenado pelo tribunal do
júri, em decisão unânime, a 34 anos de prisão. Apesar disso, há quem diga que
ele está novamente em liberdade, e que encontrou um novo parceiro para
prosseguir em sua trilha de assassinatos e estupros pela Região Serrana do Rio
de Janeiro... Será? Contando com a eficácia e efetividade extrema de nossos
sistemas judiciário e prisional, eu não acho impossível.
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