Zeus e Alcmena, por Nicolas Henry Tardieu (1674-1749) |
Zeus, Todo-Poderoso, olhava para a Grécia, dividida, enfraquecida, sonhando com o reino glorioso que, Ele sabia, somente chegaria a ser sob os auspícios de um soberano semi-divino, sábio e poderoso o bastante para unificá-la. Buscou na Terra alguém, uma mulher, que reunisse em si as qualidades necessárias para, com a semente certa, dar a luz ao mais notável dos homens. Encontrou Alcmena, filha de Eléctrion, rei de Micenas e descendente de outro filho seu, o nobre Perseu.
Alcmena,
bela e imponente, de longas e pesadas tranças emoldurando um rosto esculpido
com esmero pelos talentos de Afrodite, era não apenas bela, mas também a mais sábia
entre as mulheres. Estava prometida a Anfitrião, rei de Tirinto, mas uma
tragédia se abateu sobre a cidade, fazendo com que as bodas tivessem de ser
adiadas. Micenas entrara em guerra com os teléboas, que haviam se apoderado dos
rebanhos de Eléctrion e assassinado seus nove filhos, irmãos de Alcmena, no
campo de batalha.
Tomando
ciência da localização do gado de seu futuro sogro, Anfitrião resolveu
resgatá-lo, pagando para isso uma grande quantia... O que fez com que
Eléctrion, sentindo-se humilhado, ficasse profundamente desgostoso. Os dois acabaram
discutindo. Anfitrião, num momento de fúria, arremessou sua clava contra o gado
e esse único gesto, nesse único momento, acabaria lhe custando muito caro... A
clava ricocheteou nos chifres de um dos bois e acertou a cabeça de Eléctrion,
matando-o.
Anfitrião
foi tomado pelo remorso e abandonou Micenas, abdicando até do trono de Tirinto.
Refugiou-se em Tebas, que era governada por Creonte, mas jamais deixou de amar
Alcmena... Passado algum tempo, enviou um mensageiro para questionar-lhe se ela
poderia perdoá-lo. Foi então que Zeus, em sua infinita astúcia, pôs na mente de
Alcmena o perdão e a disposição para casar-se com Anfitrião, apesar de tudo,
desde que ele lhe vingasse os irmãos em guerra contra os teléboas.
Anfitrião
buscou o apoio de Creonte, em Tebas, e de Céfalo, em Atenas, formando um
exército capaz de confrontar e derrotar os temíveis teléboas, com suas vozes de
trovão. Quando Anfitrião partiu para o campo de batalha, Zeus acompanhou seus
passos, favorecendo-o de todas as formas até a vitória. E uma vez que a vitória
estivesse consumada, Ele se disfarçou de Anfitrião e veio para a Terra
acompanhado de Hermes, por sua vez dissimulando a aparência de um de seus
melhores amigos e mais confiáveis generais.
Zeus,
sob a forma de Anfitrião, entrou no quarto de Alcmena proclamando vitória com
um sorriso nos lábios. Sentando-se com ela no leito nupcial, narrou-lhe
cuidadosamente os detalhes da guerra, com todos os feitos heróicos que lhe
diziam respeito – feitos estes reforçados, e algumas vezes aumentados, por
Hermes, sob a forma do general de guerra de Anfitrião. Sem suspeitar de nada, a
bela Alcmena deitou-se com Zeus acreditando tratar-se de seu vitorioso marido e
juntos partilharam uma intensa noite de amor.
Uma
vez que as portas do quarto do casal estivessem fechadas, Hermes, de ligeiros
pés, correu até os limites do mundo para atender aos desígnios de Zeus Soberano.
Pediu a Hélios que não atrelasse sua carruagem dourada, a Selene que se
demorasse em seu passeio pelo céu da noite e a Hipnos que prolongasse o sono
dos homens, criando, assim, uma noite que durou três dias. E foi nesta noite
que Ele e Alcmena conceberam, juntos, um filho, uma criança, que, no futuro,
viria a ser chamada de Héracles.
Na
manhã seguinte, quando o curso dos astros voltou à normalidade e os homens
despertaram de uma longa noite sem suspeitar de coisa alguma, Anfitrião, o
verdadeiro Anfitrião, voltou para casa, alegre, com um sorriso nos lábios,
proclamando vitória e narrando feitos do campo de batalha. Ficou chocado pela
frieza com a qual sua esposa e seus servos o receberam, pouco interessados com
os detalhes que já pareciam saber. Alcmena, contrariada, quis saber por que
Anfitrião estava lhe contando as mesmas histórias outra vez. Ao ouvir que ela
já havia recebido alguém que se fazia passar por ele, Anfitrião ficou furioso.
Suspeitou da fidelidade da esposa. Antes, porém, que viesse a fazer algo de que
pudesse se arrepender, procurou o oráculo de Delfos, onde descobriu a verdade –
Alcmena havia sido desposada pelo próprio Zeus. Seu ventre conceberia, em
breve, duas crianças. Uma seria seu próprio filho e a outra um semi-deus,
destinado a se tornar o maior herói de todos os tempos.
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