terça-feira, 7 de junho de 2016

ZEUS E ALCMENA - A CONCEPÇÃO DO DEUS-HERÓI

Zeus e Alcmena, por Nicolas Henry Tardieu (1674-1749)


Zeus, Todo-Poderoso, olhava para a Grécia, dividida, enfraquecida, sonhando com o reino glorioso que, Ele sabia, somente chegaria a ser sob os auspícios de um soberano semi-divino, sábio e poderoso o bastante para unificá-la. Buscou na Terra alguém, uma mulher, que reunisse em si as qualidades necessárias para, com a semente certa, dar a luz ao mais notável dos homens. Encontrou Alcmena, filha de Eléctrion, rei de Micenas e descendente de outro filho seu, o nobre Perseu.

Alcmena, bela e imponente, de longas e pesadas tranças emoldurando um rosto esculpido com esmero pelos talentos de Afrodite, era não apenas bela, mas também a mais sábia entre as mulheres. Estava prometida a Anfitrião, rei de Tirinto, mas uma tragédia se abateu sobre a cidade, fazendo com que as bodas tivessem de ser adiadas. Micenas entrara em guerra com os teléboas, que haviam se apoderado dos rebanhos de Eléctrion e assassinado seus nove filhos, irmãos de Alcmena, no campo de batalha.

Tomando ciência da localização do gado de seu futuro sogro, Anfitrião resolveu resgatá-lo, pagando para isso uma grande quantia... O que fez com que Eléctrion, sentindo-se humilhado, ficasse profundamente desgostoso. Os dois acabaram discutindo. Anfitrião, num momento de fúria, arremessou sua clava contra o gado e esse único gesto, nesse único momento, acabaria lhe custando muito caro... A clava ricocheteou nos chifres de um dos bois e acertou a cabeça de Eléctrion, matando-o.

Anfitrião foi tomado pelo remorso e abandonou Micenas, abdicando até do trono de Tirinto. Refugiou-se em Tebas, que era governada por Creonte, mas jamais deixou de amar Alcmena... Passado algum tempo, enviou um mensageiro para questionar-lhe se ela poderia perdoá-lo. Foi então que Zeus, em sua infinita astúcia, pôs na mente de Alcmena o perdão e a disposição para casar-se com Anfitrião, apesar de tudo, desde que ele lhe vingasse os irmãos em guerra contra os teléboas.

Anfitrião buscou o apoio de Creonte, em Tebas, e de Céfalo, em Atenas, formando um exército capaz de confrontar e derrotar os temíveis teléboas, com suas vozes de trovão. Quando Anfitrião partiu para o campo de batalha, Zeus acompanhou seus passos, favorecendo-o de todas as formas até a vitória. E uma vez que a vitória estivesse consumada, Ele se disfarçou de Anfitrião e veio para a Terra acompanhado de Hermes, por sua vez dissimulando a aparência de um de seus melhores amigos e mais confiáveis generais.

Zeus, sob a forma de Anfitrião, entrou no quarto de Alcmena proclamando vitória com um sorriso nos lábios. Sentando-se com ela no leito nupcial, narrou-lhe cuidadosamente os detalhes da guerra, com todos os feitos heróicos que lhe diziam respeito – feitos estes reforçados, e algumas vezes aumentados, por Hermes, sob a forma do general de guerra de Anfitrião. Sem suspeitar de nada, a bela Alcmena deitou-se com Zeus acreditando tratar-se de seu vitorioso marido e juntos partilharam uma intensa noite de amor.

Uma vez que as portas do quarto do casal estivessem fechadas, Hermes, de ligeiros pés, correu até os limites do mundo para atender aos desígnios de Zeus Soberano. Pediu a Hélios que não atrelasse sua carruagem dourada, a Selene que se demorasse em seu passeio pelo céu da noite e a Hipnos que prolongasse o sono dos homens, criando, assim, uma noite que durou três dias. E foi nesta noite que Ele e Alcmena conceberam, juntos, um filho, uma criança, que, no futuro, viria a ser chamada de Héracles.


Na manhã seguinte, quando o curso dos astros voltou à normalidade e os homens despertaram de uma longa noite sem suspeitar de coisa alguma, Anfitrião, o verdadeiro Anfitrião, voltou para casa, alegre, com um sorriso nos lábios, proclamando vitória e narrando feitos do campo de batalha. Ficou chocado pela frieza com a qual sua esposa e seus servos o receberam, pouco interessados com os detalhes que já pareciam saber. Alcmena, contrariada, quis saber por que Anfitrião estava lhe contando as mesmas histórias outra vez. Ao ouvir que ela já havia recebido alguém que se fazia passar por ele, Anfitrião ficou furioso. Suspeitou da fidelidade da esposa. Antes, porém, que viesse a fazer algo de que pudesse se arrepender, procurou o oráculo de Delfos, onde descobriu a verdade – Alcmena havia sido desposada pelo próprio Zeus. Seu ventre conceberia, em breve, duas crianças. Uma seria seu próprio filho e a outra um semi-deus, destinado a se tornar o maior herói de todos os tempos.    

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