Um jovem bem vestido, belo rosto, corpo melhor, tira um telefone celular
do bolso, digita um número e espera. Do outro lado, uma voz masculina, rouca:
alô?
― E aí, cara? Que que houve? Por
que você sumiu?... Aposto que achou alguém mais bonito que eu – ar zombeteiro.
(pausa)
―
Não brinca, cara – diz, entre risos. – Ta pensando que eu sou trouxa? Um
filho? Você? Daquela tua mulher? Nem fodendo!
(silêncio do outro lado)
― É sério, não é?... Então você
vai ter um filho... Quem diria? Nunca me disse que queria ser pai quando ia
atrás de mim lá na sauna da Le Boy... Mas, também, não dava tempo, né? Eu
conheço seu tipo... Debaixo do sol, banca o machão, o garoto do papai.
Trabalha, estuda, cumpre todas as regras... Casa e, vejam só, agora vai ser
pai! Mas na escuridão da noite, ráh! Protegido pela sombra da lua, você busca a
segurança em braços mais fortes que os seus. E eu estava lá, não estava.
Olhando pra você com esses olhos de cumplicidade alugada... Essa boca de desejo
disponível. E você adora passear pelos músculos do meu corpo, enquanto eu te
preencho com a masculinidade que te alimenta na simulação da tua vida.
(pausa)
― Nem vem, você sabe que eu não
sou gay. Faço isso pra viver. E sou bom que faço, não sou?
(Pausa)
― Mas você abusou da minha confiança,
cara. Você ficou me devendo, lembra? Do nosso último encontro? Disse que ia
voltar, que ia pagar... E eu, como estou acostumado a te ver quase toda semana,
não me importei. Galinha de casa não se corre atrás e você já é cliente antigo.
Tudo pela nossa amizade.
(pausa)
― Não, não pensa isso, não faz
assim. É claro que eu não liguei pra te cobrar. Não vou te cobrar. Vou deixar
de cortesia. Como eu disse, pela nossa amizade. Mas, como somos amigos, você
também vai me fazer um favor.
(pausa)
― Me meti numa parada errada. Fiz
como você, comprei umas coisas pra pagar depois e não paguei, só que os caras
não eram meus amigos. Agora estão atrás de mim. Ou pago, ou morro.
(pausa)
― O que você pode fazer? Simples.
Vou passar na tua casa hoje a noite. Sei onde você mora, lembra? E você vai
estar com um cheque pra mim. Cinqüenta mil reais.
(pausa)
― Pra cima de mim, cara? Tu é
mauricinho, teu pai é figurão, acionista da Petrobrás e de não sei quantas
empresas... Cinqüenta mil salva a minha vida, mas não é nada pra tu!
(pausa)
― Sei lá, diz que é pra pagar a
escova progressiva da tua mulher ou as fraldas do teu filho que vai nascer.
Isso não é problema meu. Mas é bom você estar com esse cheque quando eu chegar
aí.
(pausa)
― Por quê? Bom, porque nós somos
amigos... E porque você não quer que o teu pai, a tua mãe e aquela idiota da
tua mulher saibam o viadinho chupador de pica que você é. Eu vou detestar
contar pra eles que você gosta de escalar o pau de sebo enquanto brinca de
rodeio. Opa! Será que isso é possível? – risinho sarcástico.
(pausa)
― Bom, cara! Que bom que a gente
está se entendendo... Quer saber? Estou com saudade dessa sua bundinha branca.
E você deve estar louco de vontade de dar mim, não está?
(pausa)
― Eu tenho boa memória. Tua
mulher tem reunião depois do expediente nas quintas... E hoje é quinta-feira.
Também sou bom de data, viu? Toma um banho bem gostoso e me espera... Eu vou
pegar meu cheque e depois vou te foder. Vou foder você na cozinha, em cima do
sofá, na mesa da sala de jantar e, por fim, na cama que você dorme com a pobre
coitada. Vou foder você gostoso, sem pressa, mas com firmeza. Do jeito que eu
sei que você gosta... Paro quando trovejar, nenhum de nós aguentar ou quando me
implorar.
(pausa)
(um risinho malicioso)
― Respira fundo, cara. Até mais
tarde.
(desliga o telefone).
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