segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A TRISTE HISTÓRIA DE ENRICO DEL FRARI IV

CAPÍTULO IV




Aconteceu como Marco havia dito.
Apenas meia hora depois daquele estranho ritual, Francesca levantou da cama e parecia ótima. Seu rosto recuperara o rubor e as olheiras simplesmente tinham desaparecido.
Enrico não entendia bem o que acabara de presenciar. No pulso de Marco não havia nem sinal de ferimento, mas a beirada da manga de sua camisa ainda estava suja de sangue. Como tinha feito aquelas coisas? Só podia ser um mágico, como havia dito. Não tinha outra explicação.
Além disso, ele cumpriu o que prometeu. Sua mãe, inexplicavelmente, estava ali, de pé. Havia recuperado a saúde. Quem a conhecesse agora não poderia sequer imaginar que há menos de uma hora estava tão doente, quase morta sobre a cama.
Ela, naturalmente, quis saber quem era aquele homem e o que fazia em sua casa. Não havia guardado nenhuma lembrança da experiência que acabara de viver. Foi quando Marco entendeu que o momento havia chegado – era hora de cobrar seu preço.
Com a elegância que lhe era típica, apresentou-se, depois iniciou uma longa e detalhada narrativa, desde o momento em que encontrou Enrico, às portas da Chiesa di Santa Maria, até aquela hora. Francesca ficou consternada com a exposição de sua miséria, mas também estava grata. Aquele homem, afinal, lhe inspirava um fascínio e uma inexplicável simpatia.
De sua parte, Marco elogiava a coragem e a inteligência de Enrico, seduzindo ainda mais a mãe do menino, que, àquela altura, estivera inconsciente a maior parte do tempo e pouco sabia dos revezes que o filho enfrentara. Com muito custo, o garoto havia conseguido garantir a sobrevivência deles dois e fez isso sozinho. Como não admirar tamanha tenacidade em alguém assim tão jovem?
Mas como, signore Marco, eu posso estar curada se os médicos dizem que não há remédio? – Francesca quis saber.
Com meu sangue – disse Marco, à queima roupa. – Mas não se engane, você ainda não está completamente sã. Vai precisar beber mais vezes, ou a doença voltará; e o único sangue que de fato lhe servirá para este fim é o meu.
A força de seu sangue, além de restabelecer a saúde de Francesca, parecia exercer algum efeito sobre sua vontade. A mulher olhava para ele com fascínio semelhante ao de um devoto diante de um santo no altar. Àquela altura, sua voz lhe parecia um eco de seus próprios pensamentos. Ela não ignorava esta reação incomum, mas também não era capaz de evitar.
Diga-me, signora – ele completou –, vai ou não querer viver para cuidar de seu filho?
Era uma pergunta definitiva e tinha mesmo este tom.
A mulher, sem ponderar, fez que sim com a cabeça.
Sábia escolha... – Marco sentenciou. – Vocês devem se mudar ainda hoje. Será um prazer imenso tê-los em minha humilde morada.



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