CAPÍTULO IV
Aconteceu
como Marco havia dito.
Apenas
meia hora depois daquele estranho ritual, Francesca levantou da cama
e parecia ótima. Seu rosto recuperara o rubor e as olheiras
simplesmente tinham desaparecido.
Enrico
não entendia bem o que acabara de presenciar. No pulso de Marco não
havia nem sinal de ferimento, mas a beirada da manga de sua camisa
ainda estava suja de sangue. Como tinha feito aquelas coisas? Só
podia ser um mágico, como havia dito. Não tinha outra explicação.
Além
disso, ele cumpriu o que prometeu. Sua mãe, inexplicavelmente,
estava ali, de pé. Havia recuperado a saúde. Quem a conhecesse
agora não poderia sequer imaginar que há menos de uma hora estava
tão doente, quase morta sobre a cama.
Ela,
naturalmente, quis saber quem era aquele homem e o que fazia em sua
casa. Não havia guardado nenhuma lembrança da experiência que
acabara de viver. Foi quando Marco entendeu que o momento havia
chegado – era hora de cobrar seu preço.
Com
a elegância que lhe era típica, apresentou-se, depois iniciou uma
longa e
detalhada
narrativa, desde o momento em que encontrou
Enrico, às portas da Chiesa
di Santa Maria,
até aquela
hora.
Francesca ficou
consternada
com a exposição de sua miséria, mas também estava grata. Aquele
homem, afinal, lhe inspirava um fascínio e uma inexplicável
simpatia.
De
sua parte, Marco elogiava a coragem e a inteligência de Enrico,
seduzindo ainda mais a mãe do menino, que, àquela altura, estivera
inconsciente a maior parte do tempo e pouco sabia dos revezes que o
filho enfrentara. Com muito custo, o garoto havia conseguido garantir
a sobrevivência deles dois e fez isso sozinho. Como não admirar
tamanha tenacidade em alguém assim tão jovem?
― Mas
como, signore
Marco, eu posso estar curada se os médicos dizem que não há
remédio? – Francesca quis saber.
― Com
meu sangue – disse Marco, à queima roupa. – Mas não se engane,
você ainda não está completamente sã. Vai
precisar beber mais vezes, ou
a doença voltará;
e o único sangue que de fato lhe servirá
para este
fim
é o meu.
A
força de seu sangue, além de restabelecer a saúde de Francesca,
parecia exercer algum efeito sobre sua vontade. A mulher olhava para
ele com fascínio semelhante ao de um devoto diante de um santo no
altar. Àquela altura, sua voz lhe parecia um eco de seus próprios
pensamentos. Ela não ignorava esta reação incomum, mas também não
era capaz de evitar.
― Diga-me,
signora
– ele completou –, vai ou não querer viver para cuidar de seu
filho?
Era
uma pergunta definitiva e tinha mesmo este tom.
A
mulher, sem ponderar, fez que sim com a cabeça.
― Sábia
escolha... – Marco sentenciou. – Vocês devem se mudar ainda
hoje. Será
um prazer imenso tê-los em minha humilde morada.
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